terça-feira, 22 de maio de 2018

Ex ‘clama’ção !

Acordei num lapso de loucura 
Que me lembrou da sua ternura 
Uma raiva desvairada 
Sem pena sem nada 
Que se esvai na estrada 

Pesadelo de sonhos sem acordes finais 
Nesta esfera sem nexo de gritos imortais 

Acordada perdida no pesadelo 
Sem amor sem defeito
Que praticam o desapego 

Sociedade burra 
Nem paz nem luta 

Chagas abertas 
Feridas partidas 

Coroa a ação 
Com uma ex clamação 

De te ter no coração 

(05/2016)

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Mar e Ana

Era só mais um show onde poderia ir com outras pessoas, inclusive. Havia motivos pra eu não estar naquele show. Havia sim. Engraçado né? Foi lá que te conheci.
A vida poderia ter feito isso antes, mas não. Deus tem o seu tempo certo para mover suas montanhas. Eu não estava triste, mas naquele dia, algo  me fez mais feliz, me fez mais Mayra. 
Que energia massa daquele mar(iana). Ana, de acordo com o significado, tem relação à terra. Terra lembra cultivo, lembra cuidado, lembra guarnição ... isso seria coincidência? Seria destino? Tão bonito isso de destino né? Assim, no sentido inocente da palavra mesmo. 
Aquele dia foi o primeiro dia que te olhei. Naquele dia quase-não-dia. E moça, não te olhei por acaso. Eu tão tímida esperava a vez da cerveja rodar da tua mão pra minha, foi o primeiro contato físico depois de um abraço de saudação, de cumprimento. 
É eu realmente tinha meus motivos para que aquilo não desse certo, mas a vida, aliás, às vezes, as melhores coisas da vida, acontecem sem uma rota traçada previamente. Logo eu, uma pessoa tão metódica e que gosta de se planejar. 
Esse mar(iana) apagou toda e qualquer tipo de rota traçada na areia úmida e deixou um caminho muito mais bonito e sem planejamento nenhum. Vamos trilhar com nossas próprias pedrinhas que encontrarmos no caminho?
Estou um tanto apreensiva e não me reconheço em alguns momentos, confesso, mas tal hora, é até emocionante. É bom. Toda essa incerteza. Toda essa coisa nova. Tudo isso, você.  Você. 
De fato, não sei, ainda, do que se trata, mas meu coraçãozinho bate certo que bate por ti, mar(iana) que se disfarça em Bruna. Perdoa minhas analogias bregas meio sem sentido até. 
O que você quer saber, às vezes, eu não sei explicar, mas com certeza eu sei o motivo. De certo, contradizendo ali anteriormente. 
Eu fui me deixando levar pelo teu carisma e o teu toque tão sincero e gentil. E esse teu sorriso, menina? Que despertou os encantos mais bonitos que eu nem sabia que Ainda moravam em mim. Aliás, não apenas o sorriso, mas toda a combinação pré-pós sorriso. O que motiva o sorriso. 
Teu carinho tocou minhas cicatrizes e marcas tão mal postas do passado. E tu podias até achar feio, mas não, tu as beijou e, assim, me fez mais bonita. 
Obrigada, Bruna. 
Bruna, combinação posta de mar e terra.

Olhos Dela


Eu acho que eram os olhos. É, talvez mesmo fossem os olhos Dela. Aqueles olhos tão pequenamente redondos que cabiam de forma tão imensa naquele globo ocular. E eu gostava de ver a forma que aqueles olhos enxergavam o mundo, mesmo que, as vezes, precisassem de colírio para curar aquela cor rubra que o vento causara. Os ventos vindos do leste que saíam, enfurecidos,do mar e balançavam aqueles teus poucos cabelos de cor clara. Aqueles olhos que namoravam com a vida e sempre me deixavam tão distraidamente encantada. Aquelas duas bilas escurecidas cheias de brilho que se mexiam tão rápido, mas tão rápido, que me confundiam a a cabeça. Que era bom, mas era confuso, mas era bom. Estranha sensação confusa de bom. Aqueles olhos. Eu acho que eram os olhos. É, talvez mesmo fossem os olhos Dela. Mayra Rogério. 01/03/2017

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ida ao purgatório

Via-se gente. Muita gente. Uma velha vendendo pipoca, um mendigo pedindo dinheiro, duas moças com blusas decotadas falando sobre assuntos banais. Por mais que ela andasse. Sim, ela andava. Andava pouco, mas andava. Não se acostumara a andar de ônibus.
 Acenou uma vez, mas não atenderam-lhe o pedido. Caminhou, vagarosamente, rumo à parada. Sentia medo, calor.  Sentia um homem olhando pra sua bolsa. Parou. Pensou uma. Pensou duas. Recuou os passos. Pensou mais uma vez, e assim, continuou sua caminhada. Agora em passos mais rápidos. Era a primeira. Não! Era uma das primeiras da fila, mas ainda assim, subiu os degraus sendo empurrada pelos cotovelos de uma mulher que também estava sendo empurrada. Foi para a direita, não achou lugar. Foi para a esquerda, não achou lugar. Ela ficou em pé. Apoiou suas costas em uma das pilastras do ônibus lotado. Estava desconfortável. A bolsa pesava em seus ombros e os arames do caderno machucavam suas mãos. Uma senhora rezando o terço. Uma negra de olhos espertos.
De repente, um ato de caridade. Uma moça de bochechas grandes, lábios carnudos e cabelos crespos preso em um nó estendeu-lhe os braços. A viajante entendeu o recado e entregou o seu caderno, agradecidamente, à moça. A mulher insistiu mais, porém ela não deu a bolsa. Não queria abusar da bondade.
  Não sabia onde se encontrava, mas sabia o seu destino. Assim, ela deixou-se seguir.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Onírico


Acordei ainda meio embriagada do sonho da noite anterior. Apalpei o criado mudo que morava ao lado de minha cama, coloquei os óculos, levantei-me ainda tonta e com a visão meio turva, cambaleei até encontrar as pantufas amarelas do Bob Esponja e caminhei em direção à sala.
A casa, como sempre, cheia de visitas e gente faladeira. Ouvia-se um bom dia, um olá, outros comentando sobre meus maus trapos e indecência. Minha mãe reclamava a desordem e me mandava vestir roupas mais apropriadas. Ainda estava de pijama e meio acordada. Outra parte de mim havia ficado na noite anterior.
Sentei-me a mesa, talei um gole quente e amargo de café goela adentro. Comi as migalhas restadas de pães, mastiguei algo macio e sem identificação, ainda assim, mastigava e engolia. O barulho da casa misturava-se com o ruir de seus pensamentos. Levantou-se. Foi chamada de zumbi. Não ligava. Fingia não dar ouvidos.
Voltou ao quarto, tirou as pantufas amarelas do bob esponja, colocou os óculos no criado mudo que morava ao lado de sua cama e deitou-se.
O sonho voltava em mim. Tudo o que queria era apagar a noite passada.

sábado, 7 de maio de 2011

Ebriedade

Era um dia, aparentemente, feliz. O sol lançava seus raios que emanavam amor para todas as direções. Você sorria. Eu estava feliz. Eu me perdia nos seus belos dentes e me afogava nos seus cabelos ondulados caídos sobre os ombros fortes. E você sempre segurando a minha mão. Estávamos à beira do mar onde era possível sentir, nos lábios, a salinidade quando o Netuno, furioso, mandava uma onda que encontrava as pedras e nos molhava.
Eu sempre soube que o teu coração não me pertencia, mas sempre gostei de brincar de “faz de conta”.  Eu não imaginava que, assim, fosse me ferir. Foi quando, então, você disse que seria melhor cessarmos.
Uma grande, cinza e pesada nuvem cobrira o céu naquele instante. As águas invadiam, cada vez mais furiosas, as pedras. Chovia sangue e eu não sentia mais meu corpo. Muitas pessoas me empurravam e eu já não tinha mais controle. Fui me deixando levar por toda a corrente. E você se deliciava com o sangue que caía do céu, caía da minha boca. Tuas mãos ainda nas minhas, soltavam-se devagar. Dolorosamente devagar. E eu quase não o via mais. Você era puxado por outra corrente mais forte e contrária à minha.
Você sorria. Não compreendia como tudo poderia está completamente bem. Encontrávamos no caos.
Você chorava. Eu sofria. Você sorria. Eu sofria.
Hoje, talvez, o que mais nos separou foi a proximidade.