sábado, 7 de maio de 2011

Ebriedade

Era um dia, aparentemente, feliz. O sol lançava seus raios que emanavam amor para todas as direções. Você sorria. Eu estava feliz. Eu me perdia nos seus belos dentes e me afogava nos seus cabelos ondulados caídos sobre os ombros fortes. E você sempre segurando a minha mão. Estávamos à beira do mar onde era possível sentir, nos lábios, a salinidade quando o Netuno, furioso, mandava uma onda que encontrava as pedras e nos molhava.
Eu sempre soube que o teu coração não me pertencia, mas sempre gostei de brincar de “faz de conta”.  Eu não imaginava que, assim, fosse me ferir. Foi quando, então, você disse que seria melhor cessarmos.
Uma grande, cinza e pesada nuvem cobrira o céu naquele instante. As águas invadiam, cada vez mais furiosas, as pedras. Chovia sangue e eu não sentia mais meu corpo. Muitas pessoas me empurravam e eu já não tinha mais controle. Fui me deixando levar por toda a corrente. E você se deliciava com o sangue que caía do céu, caía da minha boca. Tuas mãos ainda nas minhas, soltavam-se devagar. Dolorosamente devagar. E eu quase não o via mais. Você era puxado por outra corrente mais forte e contrária à minha.
Você sorria. Não compreendia como tudo poderia está completamente bem. Encontrávamos no caos.
Você chorava. Eu sofria. Você sorria. Eu sofria.
Hoje, talvez, o que mais nos separou foi a proximidade.